Quase viver, jamais
Há
um ano quase morri. Volante, sono, árvore, fratura no pescoço, erro
médico, cirurgia: quase morri. Provavelmente quase morri muitas vezes,
como a maioria de nós que um dia já atravessou uma rua correndo. Mas dessa
vez foi um quase bem mais quase. Lembro que aos 8 anos por muito pouco
não fui atropelado. Retorno da escola, avenida, chevrolet branco,
frenagem brusca: por pouco. O carro rodou na pista e voei. Mas não saí
voando pelo impacto e sim pelo susto mesmo. Dei um salto olímpico e dali
corri sem querer ver o circo armado, coisa de pivete. E pensando bem,
contar as quase-mortes pode ser útil pra caramba. Pois na minha
matemática devo mantê-las sempre superiores às vezes que quase vivi.
Quase viver é já estar podre antes do último suspiro, é sorrir sem alma,
é o desencarno do sonho. Às vezes me cobro por não viver tudo a fundo.
Mas quando penso que me permiti e me permito viver coisas que nem
estavam no meu itinerário, vejo que vivo o que tenho que viver e arrisco
naquilo que nem seria, vivendo uma totalidade improvável, que pode ser
curta, mas jamais um "quase". Viver o que nem se deveria viver é viver
mais. É também arriscar mais. Mas jamais é quase viver.
Um comentário:
very well said.
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