domingo, 26 de dezembro de 2010

Saudade de fim-de-ano



No fim de um ano, a saudade que compreende ser ainda saudade é meio como um foguete que não explode no primeiro minuto do dia primeiro. Ela é intensa nesse período, a saudade, porque grita de expectativa, como um beijo guardado, um abraço não dado, o cesto de flores arremessado nas águas para Iemanjá e que não sabemos se vai voltar com a maré.


No fim de cada ano, a saudade aperta porque aperta a vontade de que num novo ano a saudade deixe de ser saudade. Passe a ser realidade e volte à sua condiçao de apenas alento temporário, unha comida, vontade de novamente.


No fim de tudo, saudade nunca quer ser saudade. Quer sair logo da sua condição de existência. E, como passagem, ser logo linha de chegada e recomeço.


É, a saudade de fim-de-ano é mais intensa e verdadeira. Porque saudade ama contar horas e minutos, mesmo morrendo de medo de ser eterna. Ama reparar nos dias, entristecer com as noites e sonhar com as possibilidades da manhã do amanhã. Ama porque vence a maldade do tempo sonhando com um tempo que firmou no olhar, que congelou dentro de si.


Saudade de fim-de-ano dói, porque contando os dias, meses e anos, saudade espera não ser mais espera. Deseja ser apenas o reencontro, o molhado de novo do beijo, o calor daquele abraço apertado, a oferenda florida tragada e aceita pelo mar. Saudade quer mesmo é ser fogo de artifício e explodir sim, como num céu de Copa à meia-noite, queimando o ar e a si mesma, brilhando em milhares de pedaços flamejantes e efêmeros, como os minutos que tolerou sendo o que era sem querer ser.


Feliz Ano Novo. De saudades saciadas e de novos motivos pra ter tantas saudades. 

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