terça-feira, 12 de julho de 2022

Palavras de combate

Há anos não escrevo aqui. Para viver, Parei de escrever (pelo menos foi o que pensei). Melhor mesmo se eu tivesse continuado escrevendo... As palavras escritas aqui ou num diario, numa ultima pagina de um caderno velho ou num guardanapo qualquer... são diferentes quando escritas na pele. E para tantas ocasiões, palavras não foram ou seriam suficientes para descrever o que vivi ou senti. Em geral, calou-me muito a morte. A morte dos meus, a morte de sonhos, a perda daquilo que não se deveria perder, entre eles o amor por si mesmo. Sim, antes eu tivesse escrito mais, pois escrever era um ato de amor por aquele garoto que fui um dia e que escrevia tão bem. Aquele garoto que existiu pelo meu desejo de que ele existisse e, sobretudo, resistisse. Aquele garoto tão necessário que criei para não me lembrar do indizível. Pois o menino que encontrou palavras pra dizer tanta coisa, não soube dizer pra si mesmo, por décadas, sobre um abuso que sofreu na infância. Em mim, criou-se aquele menino que escrevia coisas extraordinariamente profundas para a pouca idade que tinha. Fazia sentido: os sentimentos estavam ali, as lembranças claramente não. E eu que cheguei a pensar que aquele menino fosse tão frágil. Ele tava combatendo sozinho uma guerra, o menino.

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