sexta-feira, 6 de agosto de 2010

No hospital



Teclo em silêncio 
e rompe a escuridão do quarto do hospital apenas a luz fria do monitor do laptop. O silêncio, que aqui é obrigatório, sempre me incomodou. É que nele se propagam mais agudas as minhas infinitas vozes. Aqui dentro, na mudez das horas que esperam cura, elas se agitam. É que elas, as vozes, sabem que nasceram pra isso, pra romper silêncio. Nasceram pra ser qualquer coisa de rumoroso, tipo um pedido. Ou conselho, declaração e desculpa. Um grito. Ou apenas ruído, uma oração. E esse emaranhado de vozes que sonham corda vocal não cansa de tentar embarque clandestino nos vagões das palavras que reservaram passagem pra partir de mim.

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