sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Alegria do divã



Não sei mais o que sou.

No olhar de criança o problema senil
Na ruga profana o sentimento infantil
Do entusiasta que canto, o pessimista calado
Por trás do senso do justo, o ódio embutido
Da crença divina, o mundo chorado

Palavra ou vírgula
Samba ou marcha fúnebre
Perfume ou mau odor
Não sou nem fruto maduro pra apodrecer?

Se não sei bem o que sou, então sou a própria dúvida
A alegria do divã, a criança que em pesadelo chora pela manhã

Se não sei o que sou, talvez seja mera vontade de ser
Talvez nem concreto, perfídio desejo de viver

Um rio que só corre sem saber
Rio que não chegou ao mar
De tudo o incompleto
Canção de quem um dia vai cantar

Talvez o futuro
Talvez creia em mim
Talvez quem sabe logo
Um talvez que terá fim.


(Ainda do caderno velho, ainda com 15, ainda mais inocente. Como era bom rimar e sonhar que encontraria a resposta...)

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