sexta-feira, 22 de outubro de 2010

ELA, MINHA MÃE



A estação do ano era incerta e lá fora fazia um calor ameno. Mas dentro daquele salão de baile, o clube dançante mais concorrido da cidade, a temperatura era alta – tanto quanto a idade dos frequentadores. Terceira ou melhor idade, aposentado, pensionista, avó, viúvo, divorciada duas vezes, solteirona, malandro de velha data. São tantos os rótulos pra dizer de gente que, acima de tudo, é vivida.

Entre as mesas recuadas e espremidas contra a parede (tudo pra deixar o maior espaço possível para a dança), imperam os grupos de amigas. Ex-donzelas que sustentam suas belezas de vida madura ali, sorridentes ou ansiosas, vestidas e maquiadas entre o “quero ser sexy” e o “não tenho mais idade pra certas coisas”. Sentadas, espelhinho na mão, entre um gole de cerveja e um retoque no batom, arrumam o cabelo, consertam o vestido no corpo, escondem na bolsa os óculos-de-ler-cardápio, comentam sobre “aquela” que agora está com “aquele” e, absolutamente, esperam um convite para dançar.

E não é que no meio de tanta moça já grande, enfim, chega ela. Entra, beijinho nas amigas, senta um minuto, mas nunca esquenta cadeira. Não aguenta, diz que a música é boa, não pode ficar parada. Levanta, olha em volta, não tem ainda um parceiro, mas quem se importa? Rebola, sorri e rodopia pelo salão acompanhada de uma alegria toda sua. Sapato alto, decote, vestido que marca a cintura e cara de levada, diz para as outras: “Vem, menina!”. E ri de si mesma e da sua comportada provável loucura. Se seguem tantos convites e galanteios. Tantos sorrisos para ela, a presença mais fascinante da sala da noite dançante. Onde passa, ela deixa um perfume doce no ar, aroma delicado de um passado que não machuca. Ela, que diferentemente do calor ameno da noite lá fora nunca amenizou sua vontade de seguir, de viver e de dançar. Ela, Mônica.

(14/05/2009)


Um comentário:

Unknown disse...

Mônica, mulher de fibra, guerreira...
Deus esteve e estará sempre contigo.
Beijos, Rafaela