quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Fugaz
Sinto um vazio batendo fora. Um vazio de imagens que não fazem sentido, de tempo que se acumula num canto do quarto marcando a parede como mofo. Vulgar receptáculo de vivências sem sentido, acumulador de experiências que não se encaixam, aglomerado de retalhos de vida não-costurados. Sinto-me assim.
Procuro um cigarro; como eu queria um dia não ter engasgado e aprendido a fumar. Pois nesse vazio que me devora é que sinto ainda mais a cabeça girar, mais do que engolir fumaça.
Que agonia danada. E sabe o que me deixa louco? É que no fim das contas, olhando toda essa "acumulança" de histórias repartidas e que empilhadas ganham status de vida, acabo percebendo que é justamente essa mistura desconexa que vale. Ao menos pra mim. Múltiplos pedaços de vida são múltiplas escolhas de vida - e não necessariamente escolhas erradas.
A cabeça torna a rodar, desvairada, por justamente perceber que é essa coisa toda que presta afinal.
No fim de tudo, nada vale nada a não ser pelo tempo que lhe foi dado. O tempo das coisas boas de se lembrar, o tempo com que fizemos amor sem pensar, o tempo que não foi calculado mas que somou. Tesouro absoluto dos prazeres profundos de ser simplesmente fugaz.
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